O Barão
Em memória do actor Nuno Melo (1960-2015)
"O Barão" (2011) foi inicialmente escrito por Branquinho da Fonseca em 1942. No ano seguinte, Valerie Lewton, uma produtora americana de filmes série B tomou contacto com a obra e observou potencial num filme de terror, tendo iniciado de forma secreta a rodagem numa fábrica do Barreiro em Portugal. Descobertos pelo regime devido ao retrato de uma figura ditatorial, a produtora e a equipa técnica viram-se obrigadas a destruir os negativos e foram repatriadas e os actores portugueses enviados para o Tarrafal onde acabariam por falecer.
Já em 2005, parte do material rodado e o guião do filme foram descobertos. Desta forma, Edgar Pêra (o realizador) decidiu proceder ao remake da obra original, trazendo-nos a história de um barão déspota que vive e controla a região da Serra do Barroso.
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| O Barão |
Já em 2005, parte do material rodado e o guião do filme foram descobertos. Desta forma, Edgar Pêra (o realizador) decidiu proceder ao remake da obra original, trazendo-nos a história de um barão déspota que vive e controla a região da Serra do Barroso.
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| O Barão |
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| O Barão |
"O Barão" traz-nos a história de um Inspector (Marcos Barbosa) das escolas de instrução primária que é nómada, odiando viajar e que preferia estar acomodado a uma vida pacata, mas que não o faz por necessidade de vencimentos e por não ter ninguém que o espere. Esta personagem constitui o narrador na obra de Branquinho da Fonseca e um dos pólos da dicotomia que é vivida no filme: presente (Inspector)/passado (Barão) que está de visita a Barroso e toma contacto forçado com o estranho Barão. O Barão (Nuno Melo) é um ser temperamental que escraviza a população de Barroso, no Norte de Portugal, sendo um tirano. No entanto, tem uma natureza dupla: consegue também ser dócil e infantil, ao mesmo tempo que instável e impenetrável emocionalmente.
Arrastando-se pelo castelo do Barão existe uma terceira personagem, desta vez feminina, de seu nome Idalina (Leonor Keil) que aparenta ser serva do Barão e aqui a palavra certa é mesmo aparenta, não fosse o segredo estar guardado no final do filme. Afinal o déspota, que tudo quer, pode e manda, é, no fundo um falso marialva romântico despedaçado e de uma mulher só - "Aqui quem manda sou eu"- afinal nada manda. Nem no seu coração estilhaçado. "E é como uma facada". Restando os espinhos da rosa branca que procura deixar à sua Bela Acorrentada e a inevitável queda, uma morte anunciada e um momento em que vive por momentos no momento em que é beijado pela sua amada, no leito da morte draculesca.
O Barão e a sua dualidade são evidentes e aquela parece uma noite sem fim, de mútuas confidências: o aspecto teatral é evidente e a fabulosa interpretação de Nuno Melo é assombrosa, não bastasse o argumento de Luísa Costa Gomes e Edgar Pêra ser prodigioso. Relativamente aos cenários, também existe originalidade recriando-se interior-exterior de forma interessante. A banda sonora a cargo de Vozes da Rádio, a Tuna no filme, dá um sentimento de genuinidade atmosférica.
A fotografia a cargo de Luís Branquinho também é fabulosa, embora a montagem por vezes se possa tornar excessivamente movimentada, isto é, com demasiados estímulos para o espectador: planos, contra-planos, legendas em Inglês, banda sonora, sobreposição de planos etc, o que pode resultar em algum cansaço. Por vezes alguma simplicidade poderia ter sido preferível. De destacar, a cena da tuna e da dança dos três personagens embriagados, uma espécie de fusão de todos os mundos: o racional com o irracional, a unidade.
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| Idalina e o Barão |
Arrastando-se pelo castelo do Barão existe uma terceira personagem, desta vez feminina, de seu nome Idalina (Leonor Keil) que aparenta ser serva do Barão e aqui a palavra certa é mesmo aparenta, não fosse o segredo estar guardado no final do filme. Afinal o déspota, que tudo quer, pode e manda, é, no fundo um falso marialva romântico despedaçado e de uma mulher só - "Aqui quem manda sou eu"- afinal nada manda. Nem no seu coração estilhaçado. "E é como uma facada". Restando os espinhos da rosa branca que procura deixar à sua Bela Acorrentada e a inevitável queda, uma morte anunciada e um momento em que vive por momentos no momento em que é beijado pela sua amada, no leito da morte draculesca.
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| A Tuna e o Barão |
O Barão e a sua dualidade são evidentes e aquela parece uma noite sem fim, de mútuas confidências: o aspecto teatral é evidente e a fabulosa interpretação de Nuno Melo é assombrosa, não bastasse o argumento de Luísa Costa Gomes e Edgar Pêra ser prodigioso. Relativamente aos cenários, também existe originalidade recriando-se interior-exterior de forma interessante. A banda sonora a cargo de Vozes da Rádio, a Tuna no filme, dá um sentimento de genuinidade atmosférica.
A fotografia a cargo de Luís Branquinho também é fabulosa, embora a montagem por vezes se possa tornar excessivamente movimentada, isto é, com demasiados estímulos para o espectador: planos, contra-planos, legendas em Inglês, banda sonora, sobreposição de planos etc, o que pode resultar em algum cansaço. Por vezes alguma simplicidade poderia ter sido preferível. De destacar, a cena da tuna e da dança dos três personagens embriagados, uma espécie de fusão de todos os mundos: o racional com o irracional, a unidade.
Podemos identificar algumas possíveis parecenças do trabalho de Pêra com o trabalho de outros realizadores, nomeadamente Welles, Murnau ou até mesmo Lynch.
Em conclusão, este Barão acaba por ser um ser em permanente show-off, aparentemente forte e temível (pelo poder nominal de que dispõe), mas intimamente vulnerável, de personalidade irascível, mas volátil, independente, mas completamente carente e despedaçado. Representante da decadência humana, uma figura que desistiu da luz e que vive amargurada, um Nosferatu que clama a sua dor de forma aberrante. E o amor..."dói, mas digo". Obrigatório.


















